Por: Nonato Fontes em 04/2014 - Visitas: 8585
(Quando se trata de narrar acontecimentos momentâneos, aqueles que presenciamos em alguma esquina, algum bar, algum evento, nos exige certa cautela, tanto no que diz respeito a direitos de utilização dos nomes de pessoas envolvidas em tal, ou de repartições e comércios onde o fato aconteceu. Conto a frente...
Num desses dias em que não se tem nada para fazer, muito menos para desfazer, saio eu para um passeio sem destino, apenas caminhar, estirar as pernas, não as canelas! Isso deixa para depois dos cem anos, não tenho pressa.
Tão vago iam meus pensamentos, mas de repente imagino um bando de colegas, não muitos, pois era esperar de mais em um dia de feriado em semana santa, no bar de um amigo que guardo respeito desde muitos anos, tudo em vão, apenas o dono do comércio e, agora, eu.
Pus-me a conversar com o Sérvulo - foi o único nome que arranjei para ilustrar esse texto - lá jogamos conversa fora de toda a natureza, mentiras, lorotas, políticas, essa quase nos tirou do sério! Mas entre uma e outra, aproveitávamos para pincelar a vida alheia, não era o meu caso, mas o amigo gostava de uns tratos inimagináveis com alguns viventes de algumas classes, dentre elas a que mais me chamou a atenção foi a dos pobres.
Deixei para este outro parágrafo para que a imaginação sua, leitor, tecesse alguma crítica, no que diz respeito a falar de pobre. Desmancho aqui sua afirmação, caso tenha passado pela sua cabeça, se tratar de alguma falácia maliciosa em respeito a classe da qual faço parte, e com muita honra. O que o meu camarada contou foi coisa comparativa, mesmo porque, se tratava de um falando da sua própria classe, e por sinal, falando com um humor incomparável!
Batia em nosso rosto um vento bem leve, um pouco frio, dia agradável. Mas vez em quando um assoprava mais forte, foi num destes que se escuta bem baixo uma pancada de porta do lado de dentro da casa vizinha, coisa de vento quando busca uma saída. O som da pancada, quase não ouvida, chamou a atenção do amigo, que silenciou, abriu bem o olho para meu lado, gesto que me fez sorrir de tão admirado olhar que fez.
Meu amigo tem um senso crítico pra lá de apurado, como também um humor de causar inveja, aproveitou esse momento de silêncio para arquitetar um comentário, nem digo traçar, pois se torna diminuto para a engenhosidade do cidadão. Comparou a pancada de porta da casa do rico com a pancada de porta da casa do pobre.
Chamo a atenção para o título dado ao comentário: Pancada de porta da casa do rico com a Pancada de porta da casa do pobre. Veja se pode surgir tão de repente uma comparação crítica desta natureza da cabeça de qualquer um? Digo isso pelo motivo que vocês mesmos irão julgar depois que eu contar. Vamos lá...
Mais uns parágrafos e finalizo, mas me responda, qual classe se ajusta você? Ou melhor, já chegou a ver uma porta de um pobre se fechando com a força do vento? E a do rico? Já imaginou a diferença? Meu amigo explica, vamos lá...
Depois do espanto e de alguns segundos em silêncio do amigo, perguntei o que era aquilo, somente por perguntar, mais ou menos uma deixa, mesmo sem saber o que sairia depois. A resposta foi a comparação:
Você viu? Ouviu alguma coisa? Apenas um soprinho, foi ou não foi? Sabe o que é isso meu amigo? Porta de rico! Nem zoada fez, barulho nenhum, dá para dormir no pé e não acordar. Diferente da porta do pobre, não precisa ser nem uma ventania desta, é uma pancada do outro mundo! Faz barulho que acorda até os moradores do outro quarteirão! Primeiro porque não bate apenas a porta, é a tramela que caiu para o lado, ferrolho para outro, a dobradiça nunca mais aparece, a bicha fica meio pensa, cai e não cai! A pobre da mulher corre para acudir e o cidadão grita lá de dentro, êita vento dos seiscentos coisas ruins! Acabou com tudo! Mulher da baixa da égua, tu se esqueceu de colocar a pedra para segurar essa porqueira? Um dia ainda prego isso direito, nem a tramela segurou!
Se te contasse o resto da comparação enchia esta página, mas finalizo aqui esse relato. Somente uma ressalva, antes que me critiquem por escrever sobre esse assunto, como dizia um antigo parceiro de cachaça, que Deus o tenha! Tudo que se faz neste mundo tem uma explicação, mesmo o mal. A comparação do amigo também tem, mas deixo que cada um faça sua leitura, com calma, e a encontre nas entrelinhas.
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