Por: João Moura em 05/2014 - Visitas: 2907
Apócrifo
Quando vires dos olhos algumas lágrimas,
é meu sangue sem tinta que se esvai
suprimidos por dígitos da alma
desta pífia ilusão minguada e calma
da lembrança que tesa acena e vai!
Neste apócrifo de sombra e de mister
vi por lixo no rele esquecimento
tropeçando na fenda dum momento
enganchasse num busto de mulher!
Nos espectros de olhos os teus olhos,
nas migalhas dos anos corroídos
viamão de sintomas preteridos
no ruído das vagas aos abrolhos...
Por sutil relutância resguardei-me,
a não ter do albedo o que me queime
no que pese o espúrio dum romance
que esta deusa indigente e rainha
dá-se à rua, à noite e nunca minha
quando a alma resigna por relance.
Corolário de imensa troça e fútil
ao gostar se prescreve o tom inútil
dos degelos prosaicos da afeição
cujo peito infortúnio se degrada
nas ogivas da néscia madrugada
por silêncio no palco sem canção.
Túrgida dor de infames precedentes
da instância mal grada da inocência,
onde o ramo onírico quer clemência
operando os traumas-expoentes
como quem grita ao tempo, mas não sabe,
e insiste em "me leves ou me deixes!"
Como terra nas guelras, os pobres peixes,
que o grito no silêncio não cabe!
Há que doa suposta mendicância!
concubina das faces de ameixas
virulentas panteras lesas gueixas
entrepostos soslaios de vacâncias,
onerosos dos quênios confinados
nas sinapses perdidas na distância.