Por: Vilebaldo Rocha em 09/2015 - Visitas: 4832
O Caçador de Passarinhos
Era uma vez um menino
Que gostava de caçar passarinhos.
Saía de casa com sua indumentária:
Sua baladeira que o pai comprara;
Sua capanga que a mãe fizera;
Suas pedras colhidas na areia do rio...
Não era um rio inventado,
Mas também poderia ser.
Um guerreiro sob o raio morno da manhã.
Dom Quixote de La Mancha
E seus moinhos de vento.
Esgueirava-se pelos campos,
Entre flores, entre pedras, entre espinhos.
Era quase só olhos, ouvidos e coração.
Em lavadeira não atirava,
Senão Deus andaria de roupa suja.
Também não era certeiro,
Nunca comera um coração de beija-flor.
As pedras sofriam de inutilidade.
Num esboço de poema,
Uma Dulcinéia recebia flores sem saber:
Flores silvestres. Flores de versos.
Versos ainda não materializados.
Mas vivos. Inquietamente vivos.
Versos ainda não esculpidos
Na dor e na alegria dos olhos
e dos ossos.
Era um menino que gostava de caçar passarinhos,
Mas os passarinhos era que o caçavam...
Com seus cantos, suas cores, suas asas
- arco-íris de pena.
O menino sempre voltava com a capanga vazia.
Mas seus olhos vinham cheios de pássaros,
Cantos, cores, asas e poesia.
Imagens que o tempo não apaga.
Palavras aprendidas. Apreendidas.
Inventadas ou invertidas.
Quem sabe explodidas!?!
Umas nuas, outras vestidas.
Versos movendo seus moinhos de vento.
Vento movendo seus moinhos de versos.
Um vento surgido do meio da Noite
Arrastou o menino para um canto do tempo.
Um homem surgido do meio da Noite
Faz versos tristes.
Tristes como um passarinho morto.
Era uma vez um menino que gostava de caçar passarinhos...
(O Caçador de Passarinho - 2006)