Por: Nonato Fontes em 05/2014 - Visitas: 14182
Maria Clara Machado nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, filha do escritor Aníbal Machado e Aracy Jacob Machado. Começou a carreira artística com um teatro de bonecos que fundou e dirigiu durante cinco anos. Em 1950 recebeu uma bolsa do governo francês para estudar teatro em Paris, ficou lá durante um ano. Também na Europa, recebeu uma bolsa de estudos da UNESCO. Ao voltar ao Brasil em 1951 fundou uma companhia de teatro, O TABLADO, responsável pela ascensão de muitos artistas que hoje fazem sucesso nos palcos e nas novelas.
Maria Clara Machado recebeu inúmeros prêmios ao longo de sua carreira, nada mais justo tratando da enorme contribuição que tem dado para aqueles que amam as artes cênicas.
Dentre esses prêmios, destacamos aqui:
1. Prêmio anual de peças infantis do Distrito Federal, com a peça: O Rapto das cebolinhas.
2. No mesmo festival de peças infantis do distrito federal com a peça: A Bruxinha que era boa.
3. Prêmio da Associação de Críticos de São Paulo, melhor espetáculo amador e melhor autor nacional com a peça: Pluft, O Fantasminha.
4. Hors Concours, no festival de peças infantis do SNT - MEC com a peça: A Bruxinha que era boa
5. Atelier de teatro de Caxias do Sul com a peça: Pluft, O Fantasminha.
6. Prêmio Sacy como melhor autor nacional com a peça: Pluft, O Fantasminha.
7. Troféu teatro amador de Friburgo com a peça: Maria Minhoca
8. Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras pelo conjunto de sua obra.
Peças infantis:
O BOI E O BURRO NO CAMINHO DE BELÉM
O RAPTO DAS CEBOLINHAS
A BRUXINHA QUE ERA BOA
PLUFT, O FANTASMINHA
O CHAPEUZINHO VERMELHO
O EMBARQUE DE NOÉ
O CAVALINHO AZUL
A VOLTA DO CAMALEÃO ALFACE
MAROQUINHAS FRU-FRU
CAMALEÃO NA LUA
A GATA BORRALHEIRA
A MENINA E O VENTO
O DIAMANTE DO GRÃO-MOGOL
MARIA MINHOCA
APRENDIZ DE FEITICEIRO
TRIBOBÓ CITY
O PATINHO FEIO
OS CIGARRAS E OS FORMIGAS
CAMALEÃO E AS BATATAS MÁGICAS
QUEM MATOU O LEÃO?
JOÃO E MARIA
O DRAGÃO VERDE
O GATO DE BOTAS
PASSO A PASSO NO PAÇO IMPERIAL
A CORUJA SOFIA
A BELA ADORMECIDA
JONAS E A BALEIA
Peças para adultos:
REFERÊNCIA 345
MISS BRASIL
AS INTERFERÊNCIAS
OS EMBRULHOS
UM TANGO ARGENTINO
Fora muitas outras peças de teatro, publicada pela autora, prefiro deixar um texto que mostra inúmeras dicas e informações para atores e oficineiros que praticam as artes cênicas. Bom proveito! E meus sinceros votos de que a vida nos palcos seja sempre bela para todos.
BASTIDORES DO TEATRO
Autora: Maria Clara Machado
Nas próximas páginas, você vai encontrar algumas dicas e observações sobre a montagem de uma peça de teatro. Desde a escolha do texto até a preparação dos atores e a confecção de cenários e figurinos, Maria Clara ajuda você a pensar em todos os detalhes para que sua peça, montada em casa, na escola, no clube ou onde você quiser, seja um sucesso para o público e um prazer para quem está participando.
A HISTÓRIA
Outro dia, me perguntaram:
-De onde é que você tira todas essas histórias que escreve?
Respondi:
- Tiro da minha cabeça.
-Então, é só tirar a idéia da cabeça e pronto?
-Pronto, nada - disse eu - , aí é que a coisa começa a ficar difícil. Primeiro, a gente tem que aprender a escrever bem o português. Depois, temos que botar a idéia nas frases. Estas têm que ser entendidas por todo mundo.
- Então, todo mundo que tem idéias pode escrever histórias?
- Bem - disse - , pode, podem, mas é preciso que tenham outras coisas, além disso. Por exemplo, é preciso saber botar a história no estilo ou jeito ( cada escritor tem o seu) que os outros gostem e compreendam. Em seguida, é preciso transformar a idéia em histórias, escrita ou representada.
- E isso é difícil?
- É trabalhoso. A gente tem que suar um pouco. Um escritor famoso americano disse uma vez que, para escrever, era preciso cem por cento de talento e cem por cento de suor. Ele quis dizer com isso que não era só talento, isto é, a idéia na cabeça, que fazia um bom escritor, mas que também era preciso muito trabalho e dedicação, até mesmo botar no papel uma boa idéia.
A PEÇA DE TEATRO
As histórias passadas no teatro são chamadas peças de teatro e o lugar onde se passam essas histórias chama-se palco. Para haver teatro é preciso uma história, alguns atores para representar, e um palco. O palco pode ser daqueles que se vêem comumente nos teatros com cortina e cenários e pode ser também qualquer lugar onde haja espaço para se representar. Uma sala grande ou um tablado armado no meio de um terreno, tudo isso pode servir para se representar uma peça.
- Como é que se começa a fazer uma peça de teatro?
Depois que ela foi escrita pelo dramaturgo (escritor de peças de teatro), o diretor da peça reúne os atores para distribuir os papéis. Então ele escolhe os atores e atrizes que vão representar a peça. Aí começa um trabalho muito difícil. É o estudo da história pelo diretor e pelos atores para se entender o que a história quer contar. Todos se sentam em volta de uma mesa, cada um com o texto na mão, e começam a ler seus papéis enquanto o diretor vai descobrindo a significação de tudo.
- E ele sabe a significação de tudo?
Bem, ele tem mais experiência que os atores e procura, ouvindo a história, descobrir por que um personagem (personagem são as pessoas da peça) faz isto ou aquilo. Por exemplo: se um personagem chamado João diz para sua irmã, que se chama Maria, "Vamos fugir de casa", o diretor e os atores têm que descobrir se João está brincando, se está falando sério, se quer mesmo fugir porque está infeliz etc. Só depois de descobrir essas coisas é que os atores começam a se movimentar. Depois de estudar o texto, eles vão para o palco.
A MARCAÇÃO
Os atores acabam de estudar o texto (a peça escrita) e agora vão decorá-lo para que ele se transforme em teatro, isto é, peça falada e representada no palco.
Chegou a hora da marcação.
Mas ainda falta muita coisa. Tetro é uma arte que necessita de muito esforço, muita dedicação e muito trabalho.
- Então por que fazer teatro?
Porque é bom e porque eu gosto. Se você gosta de sua profissão, as coisas difíceis ficam muito mais fáceis de se fazer. Mas vamos voltar ao teatro, Marcar a peça quer dizer botar os atores andando pela cena. Às vezes vocês vão em um teatro e pensam que cada ator anda por onde quer. Tudo parece muito natural e fácil. No entanto, para parecer muito natural o andar de cada um e sua colocação na cena, o diretor e os atores tiveram que suar muito. Tiveram que ensaiar durante meses.
Primeiro ainda, com o papel na mão, porque o texto ainda não está bem decorado, os atores começam a descobrir os lugares por onde terão que se movimentar e o diretor vai dando as sugestões de acordo com a história. Por exemplo: se João e Maria estão fazendo uma cena juntos (contracenando), o diretor procura a melhor maneira de mostrar ao público o que eles estão sentindo. O diretor diz: "Maria, anda até a direita e fica de costas esperando a chegada de João. É preciso que você finja que não sabe que ele vai chegar".
- Por que fingir?
Porque teatro é uma espécie de fingimento. João e Maria estão fingindo que são pessoas diferentes deles mesmos. Eles não se chamam Pedro ou Lúcia? Portanto, Maria tem que fingir que está fingindo. Complicado, hem?
Bem, continuando a cena entre João e Maria, o diretor explica: "Maria está de costas e, quando João entra, ela se vira e diz: "Você aqui?". Quando Maria disser isso. João anda até a esquerda e senta no sofá..."
Bem, como vocês viram, o diretor tem que "marcar" cada passo dos atores e ainda tem que "marcar" um tempo de espera entre as frases. Tudo isso escrito parece meio complicado, mas é só para vocês terem uma idéia de como se "monta" uma peça de teatro.
O ATOR
A coisa mais importante do teatro é o ator. O escritor de teatro tem uma idéia na cabeça. Ele escreve uma peça. Esta peça tem que ser contada no palco, pois é só no palco que a história de teatro pode viver. O compositor que escreve uma música precisa de um instrumento para poder comunicá-la. Pode usar vários instrumentos e um intérprete. No teatro, o intérprete e o instrumento são a mesma coisa: o ator. Como o instrumento do músico tem que ser afinado para comunicar o melhor possível a melodia do compositor, também o instrumento do teatro, o ator, tem que ser afinado para melhor comunicar o que o dramaturgo (lembram-se desse nome pomposo?) quer dizer para o público, ou melhor, para o mundo. Quanto melhor for o ator, mais claramente a idéia do escritor é compreendida. Então, o ator é aquele que vive num palco as idéias de um autor (escritor).
Vejam como as coisas estão ficando difíceis. Não basta ter um corpo que sabe andar e falar para ser um ator. É preciso também usar esse corpo e essa voz. Muita gente pensa que basta decorar um papel de uma peça, subir num palco e despejar as palavras em cima do público para fazer teatro.
Isso é uma pena. Porque a pessoa fica muito infeliz quando vai ao teatro para se emocionar, para sentir alegria e tristeza, para ver e sentir a vida, para conhecer as idéias de um autor, e encontra atores que parecem papagaios em cena - e às vezes papagaios que não sabem nem falar e se movimentar.
É tão importante o papel de um ator no teatro que para bem formá-lo existem escolas e academias espalhadas no mundo todo.
APRENDER A FALAR
O ator comunica o texto do autor ao público pela sua expressão. Ele se exprime pela voz, pelos movimentos e pela sensibilidade.
Antes de continuar a nossa conversa sobre as qualidades doa ator, quero fazer uma pequena paus para dizer a vocês que existe também a brincadeira de tetro que todos vocês podem fazer. Um grupo de amigos se reúne e começa a estudar uma peça. E podem té fazer roupas, pintar cenários, decorar texto e representar. É muito divertido e útil. Às vezes é brincando que a gente descobre que quer transformar aquela brincadeira em coisa séria, em profissão. Qualquer pessoa ou grupo pode brincar de teatro. A brincadeira pode durar um dia, uma semana, ou meses, e é claro que quanto mais a sério ela for feita melhores serão os resultados. Outra coisa boa a fazer é inventar histórias e depois representar. Qualquer história pode ser representada desde que o grupo saiba imaginar bastante.
Isso tudo que eu escrevi é para vocês verem que para brincar de teatro não é preciso entrar para uma escola de atores, mas que, mesmo para brincar de teatro, é bom saber como é que se faz teatro de verdade.
Saber falar bem é uma coisa muito difícil. Vocês repararam que tem professores que sabem muito a matéria, são muito sérios, mas não sabem falar direito? Então a aula fica chata, dá sono, dá vontade de conversar, de sair da sala. Às vezes o defeito desse professor é não saber transmitir o que ele sabe aos alunos. Sua voz é monótona, ele engole as letras finais, enfim, ele precisa de uma boa aula de diccão. Dicção é a arte de saber falar direito. Existe também a palavra impostação. Tudo isso o ator tem que aprender para que possa dizer bem o seu texto. Mas antes de falar, ele tem que saber dominar o seu corpo. mesmo se ele tem uma voz muito boa e naturalmente impostada, às vezes só porque ele está nervoso, com medo, sua voz treme ou fica estrangulada na garganta. Ele precisa então aprender a relaxar, a dominar seu gesto e suas ações.
O CORPO
Na página anterior falamos sobre a voz do ator. A voz, como vimos, é muito importante, mas ainda não é tudo que o ator precisa para ser um bom ator. Ele precisa também saber transmitir o seu papel pela expressão do corpo, pelos gestos. Falei que o ator precisa aprender a relaxar, a dominar seus gestos e ações. Vocês devem estar achando estranho um pessoa Ter que relaxar para representar bem. Vou explicar: se o ator está tenso, isto é, cheio de medo, envergonhado ou preocupado em não esquecer o papel, ele não consegue direito nem dizer as suas falas nem se movimentar na marcação. Ele fica plantado no chão dizendo seu papel e acaba estragando tudo. Para que isso não aconteça, ele precisa saber se controlar para usar melhor seu corpo e suas emoções. Um nadador não precisa treinar bastante para entrar numa competição? Não precisa exercitar seu corpo para cada dia do treino nadar com mais velocidade e classe? É isto que o ator tem que fazer: excitar seu corpo e suas emoções para que cada dia possa representar com mais desembaraço e naturalidade.
As emoções não podem ser representadas de qualquer maneira. Para que o ator sinta alguma coisa quando está representando, é preciso primeiro que ele esteja calmo, isto é, relaxado, sem tensões, para que o sentimento que ele for representar pareça verdadeiro.
SENSIBILIDADE
Vamos preparar o aluno para ser um ator. Estamos tentando afinar seu corpo e sua sensibilidade como se afina um piano para ser bem tocado. Falei sobre a sensibilidade. O que é a sensibilidade? Às vezes as pessoas falam: "João tem muita sensibilidade", ou então: "Maria não tem nenhuma sensibilidade". O que é isso? Sensibilidade é sentir as coisas. É ver uma coisa bonita e se emocionar. É ouvir uma história e ficar triste ou alegre. É sentir amor, raiva, pena, inveja, vontade de abraçar, de ser abraçado, de chorar. Tudo isso é ser sensível. Quem é que não é sensível? Não é assim que você está pensando? Às vezes a gente é tão sensível que chora à toa, ou ri à toa, ou fica com raiva por uma bobagem. Ou então a gente não é nada sensível e não sabe apreciar nada. Vê uma coisa bonita e fica na mesma, ouve uma música e não acha nada, ouve uma história e abre a boca de sono. O que é melhor? Claro que o melhor é sentir as coisas. Porque somente sentindo as coisas a gente aprende a ser feliz. E a vida está aí, convidando todo mundo a descobri-la. Para descobrir as coisas da vida a gente tem que ter sensibilidade. Tem que perceber as coisas. Mas, vocês podem estar pensando, o que tem isso a ver com o ator?
O ator não é um artista? Artista não é aquele que percebe as coisas da vida e transmite aos outros? Pois é isso. O ator é aquele artista que aprendeu a mostrar aos outros, através do teatro, uma maneira de ver a vida. É uma grande responsabilidade.
Mostrar ao público a vida. Se todo mundo, para viver feliz, tem que ter sensibilidade, quanto mais o ator, vocês não acham? Ele deve ter ainda mais sensibilidade que os outros. Porque ele tem que representar no palco muitas emoções.
Falei sobre educação da sensibilidade. Por que tem que se educar a sensibilidade? Ou se tem sensibilidade ou não se tem, não é? A verde é que todo mundo tem sensibilidade. O que acontece quase sempre é que ela é mal educada. Ou então não está desenvolvida. Se o ator tem que representar no palco uma porção de sentimentos, tem que primeiro conhecer esses sentimentos. Para conhecer os sentimentos ele faz exercícios de sentir. Por exemplo: o professor diz para o aluno-ator: sinta-se à beira de uma fogueira e sinta frio, depois sinta que o calor da fogueira o está aquecendo. Isso tudo sem fogueira, é claro. O ator tem então que primeiro imaginar que está sentado à beira de um fogo e depois imaginar que está sentindo calor. Como vocês estão vendo, já começamos os exercícios de sentir.
IMAGINAÇÃO
Acho que não há ninuém que não saiba o que é imaginação. Quem é que não fica pensando às vezes que é um aviador, ou um artista de televisão, ou mesmo um herói de historinha? Quem é que nunca pensou em viagens, em lutas, em namorados e namoradas? Em cenas de amor? Isso tudo é fabricado pela nossa imaginação. Nossa imaginação é uma coisa maravilhosa. Ela nos ajuda a viver. Ela viaja conosco por toda parte. Com ela o menino pobre anda nos lugares muito longes sem gastar um centavo. Com ela os artistas inventam histórias, com ela todo mundo descansa um pouco da realidade para passear por todos os recantos da vida. Mas não é só isso o que podemos fazer com a nossa imaginação. Ela também nos ajuda a resolver uma porção de problemas.
Ela enriquece nossa vida criando soluções novas para coisas que a gente não sabia resolver. Quer um exemplo? Um menino que não pode comprar muitos brinquedos transforma caixas, vidros, tampinhas, trapos, em toda espécie de brinquedo.
Quem inventa os brinquedos é a imaginação. E as histórias engraçadas dos cômicos de cinema? Como é que eles inventam? Charles Chaplin, o Carlitos, é um grande ator tem uma imaginação maravilhosa. Ele observa a vida e depois imagina uma porção de situações engraçadas ou tristes para comover o público. Os alunos-atores também fazem exercícios de imaginação.
Com a imaginação tudo pode se transformar numa história. Por exemplo, eu digo a vocês: inventem ou criem uma história sobre um cachorro e um menino. Sobre um cachorro e um menino podem surgir várias coisas: 1a - Você pode fazer um desenho de um cachorro com um menino. Esse desenho pose ter várias maneiras, dependendo da imaginação do autor. 2a - você pode escrever uma história que pode ser alegre, triste, engraçada, dependendo do que você está sentindo na hora de escrever a história. 3a - Você pode representar uma história com um cachorro e um menino. E é isso que os atores fazem para treinar a imaginação. As histórias podem ser simples ou complicadas. É sempre bom fazer com alguns companheiros.
Vamos criar uma história? Eu vou fazer uma e depois vocês criam outra. Vamos fazer uma história para ser representada: um menino está estudando em seu quarto. Entra o cachorro ( que pode ser representado por outro menino ou menina) e começa a latir. O menino quer estudar e manda o cachorro calar a boca. O cachorro insiste. O menino fica irritado e bate no cachorro. Mesmo apanhando, o cachorro continua a latir e a correr para a janela. O menino finalmente resolve ir até a janela. Quando olha, vê que o cachorro queria mostrar que um ladrão estava invadindo a casa ou que um incêndio estava começando na garagem. O menino corre e chama seus pais, e depois volta para agradecer a seu cachorro ao mesmo tempo que lhe pede desculpas por tê-lo maltratado injustamente.
EXERCÍCIOS DE IMAGINAÇÃO
Qualquer história pode ser dramatizada. Depende da imaginação dos atores. É a prática de representar que vai ser a melhor escola do futuro ator. A seguir dou algumas histórias fáceis só para você começar a brincar de teatro. As palavras desse exercício devem ser improvisadas na hora da representação. Representando essas histórias, você estará educando a sensibilidade, desenvolvendo a imaginação, se divertindo muito e começando a aprender a fazer teatro.
Não se esqueça da disciplina. Mesmo numa brincadeira de teatro é preciso disciplina, senão ninguém conseguirá fazer nada. Não é assim também uma partida de futebol? Ou num jogo qualquer?
Os exercícios podem ser feitos com roupas especiais, com cenário e com música ou sonoplastia. A imaginação dos participantes dos exercícios pode voar para onde quiser.
Por isso mesmo é que é maravilhoso o jogo do teatro. Dá a oportunidade para criarmos tantas coisas quanto nossa imaginação inventar. E não se inventa só na história. Inventa-se também na música, na sonoplastia, no cenário, nas vestimentas. Depois de praticar estes exercícios você será capaz de inventar muitas outras histórias.
Texto 1 - O FANTASMA
Num quarto escuro, meninos brincando de fantasmas. no meio da brincadeira, ouve-se um barulho vindo de fora. O medo torna-se real. Tomam coragem e se escondem. Entra um ladrão e começa a roubar. Os meninos observam e resolvem gozar o ladrão - fazem barulho, aparecem vestidos de fantasma e o ladrão se apavora e foge.
Texto 2 - O BOLETIM
Dois alunos esperam o resultado das provas. Quando chega o boletim e é pregado na parede, eles verificam que um passou e o outro não. Olham um para o outro. O feliz estudante que passou, num movimento de solidariedade, abraça o companheiro com amizade.
Texto 3 - A PESCARIA
Três pessoas saem de barco para pescar. Arma-se uma tempestade, elas tentam remar para a praia (mímica de pescaria - mímica de remar). Ansiedade. Reação, segundo o temperamento de cada um. O mais corajoso pede calma, outro reza, outro chora. Finalmente vêem ao longe um barco maior que se aproxima. Alegria
Texto 4 - O ESPANTALHO
Toda noite um ladrão roubava a plantação da família. Os meninos resolvem descobrir quem é. Colocam-se no lugar do espantalho. Quando o ladrão chega, começa a fazer barulho e é agarrado pelos espantalhos, o que amedronta o ladrão, que acaba sendo preso pelos meninos.
Texto 5 - MAU JUÍZO
Pedro chega com um lindo peixinho e põe em cima da mesa, no centro da sala. Olha o peixinho com admiração. Sai. Chega Mimi, o gato. Rouba o peixe e foge. Volta Pedro com um amigo, João, para mostrar seu brinquedo. Vê que o peixinho desapareceu.
Furioso, acusa João de ter roubado. João, ofendido, sai. Pedro, vendo um saco, esconde-se dentro para pegar João em flagrante. Volta João e, vendo o saco, acha que é um ladrão. Volta e traz um pau para atacar o ladrão. Gritos dentro do saco. Pedro sai e se explica. Pede perdão por haver feito mau juízo. Ambos se escondem e pegam o gato de volta.
Texto 6 - O VADIO
Pedro não quer ir à escola. Diz que vai enganar a mãe, que o vem chamar. Finge que está com tremenda dor de barriga. Começa a chorar. A mãe, desesperada, chama o médico por telefone. Pedro se assusta. Tem medo do médico. Este chega. Examina o falso doente, que diz estar sofrendo muito. O médico diz que já sabe o remédio. Chama a mãe à parte, conversa baixo e volta dizendo que o doente tem que ficar um mês sem sair da cama. Pedro chora. Pede perdão e diz que nunca mais mentirá nem faltará à escola. Sai correndo.
Texto 7 - O MILAGRE
Um casl pobre não tinha tempo de arrumar a casa. Os dois filhos, fingindo-se de fadas, resolvem arrumar tudo durante a noite. Quando os pais acordam, não sabem quem trabalhou e acham que é um milagre. No dia seguinte, a mesma coisa. Na terceira vez os pais resolvem ficar de vigília para ver quem eram os anjos que os ajudavam. Quando descobrem que são seus próprios filhos, ficam muito alegres.
Texto 8 - O CURIOSO
João chega com um embrulho. Pedro pergunta o que tem dentro. João diz que não pode dizer, pois a mãe pediu que não o abrisse. Era para a vovó. Pedro insiste, mas João torna a negar. Pedro, furioso, promete vingar-se. Sai. João resolve dar uma lição no amigo, pregando-lhe um susto. Traz um embrulho igualzinho ao outro e deixa em cima da mesa. Esconde-se. Pedro volta pé ante pé. Vê o embrulho e fica contente. Aparece João, que pede a Pedro para tomar conta do embrulho, enquanto sai por um instante. Pedro corre e abre o embrulho. Dele sai uma cobra. Pedro desmaia de susto. João chega e dá uma gargalhada.
A PRODUÇÃO DE UM ESPETÁCULO
O que é a produção em teatro?
Depois que a peça foi ensaiada, marcada, estudada, vamos tratar do espetáculo Vamos tratar de preparar a peça para ser mostrada ao público.
Os espetáculos profissionais têm para dirigi-lo um diretor e para mostrá-lo ao público um produtor. O produtor profissional é uma espécie de diretor de empresa. Ele cuida de contratar os atores, diretores, iluminadores, cenógrafos, figurinistas, maquinistas, músicos, coreógrafos, porteiros, bilheteiros etc, etc.
Como vêem, um espetáculo profissional requer muita capacidade para ser feito sem prejuízo, pois um produtor precisa de muito dinheiro para pagar toda essa gente especializada. Aí o jogo do teatro deixa de ser uma simples brincadeira para se transformar num empreendimento bem mais complicado. Mas aqui não estamos tratando de espetáculos profissionais, mas sim de espetáculos amadores, que servem para despertar naqueles que participam a vontade de fazer teatro profissional ou se divertir e aprender. No espetáculo amador, geralmente o próprio diretor é o produtor da peça. Vamos então começar a enumerar o que o diretor tem de cuidar depois que a peça foi ensaiada.
Quais são as principais atribuições do diretor-produtor?
1. Colocar a peça no ambiente pedido pelo autor - o palco e o cenário.
2. Vestir a peça.
3. Musicar a peça.
4. Iluminar a peça.
5. Vender a peça ou apenas transmiti-la ao público: estrear.
É preciso dizer ainda que mesmo um espetáculo amador requer algum dinheiro. A não ser que o espetáculo que vamos fazer não passe realmente de uma improvisação, onde os cenários, a luz, as roupas sejam apenas improvisados com cortinas velhas, roupas emprestadas e armadas com velhos panos, sacos, papel pintado etc. Essa é, aliás, a melhor maneira de se desenvolver a imaginação. A falta de dinheiro é uma grande professora de imaginação. Saber aproveitar o material disponível é uma arte que todo futuro homem de teatro deve aprender.
É bom ter um baú cheio de roupas velhas, chapéus, bengalas, máscaras, cortinas, enfim, tudo o que possa servir e ser transformado e ser usado num jogo dramático. Nesse caso o produtor-diretor deve saber escolher com os atores o material a ser usado. Se o grupo precisa d algum dinheiro, e isso é quase sempre indispensável, o melhor é fazer uma coleta entre todos e com o resultado fazer uma caixinha de teatro. Às vezes, mesmo transformando coisas velhas em material de cena, é necessário comprar tintas, pregos, compensado, alguma fazenda, agulha, linha etc. muitos grupos de teatro que iniciam gostam de pedir emprestado cenários, figurinos, refletores. Se conseguirem está muito bem. Mas é muito melhor poder construir tudo que for relacionado com a peça. O fato de os próprios atores fabricarem seu material torna o empreendimento muito mais fascinante e instrutivo, sem falar no desenvolvimento da imaginação e no aprendizado técnico.
O PALCO - O CENÁRIO
O palco é qualquer lugar onde haja espaço par se representar. Uma sala grande, um tablado armado no meio de um terreno, um circo ou um teatro; o importante é, pois, o espaço, que podemos chamar de espaço cênico.
O elemento principal de uma representação teatral é o ator, daí terem importância menor os cenários, os figurinos, a música etc. uma peça pode ser representada sem nenhum cenário, numa sala, num jardim, num arena, num caminhão; portanto, o cenário não é o elemento indispensável. Há uns tempos atrás s pessoas de teatro achavam que era indispensável fazer cenários que copiassem direitinho os lugres onde se passavam as histórias de teatro, então as cenas tinham que representar ora um palácio, ora uma floresta, ora um sala, ora um quarto.
Esses cenários que copiavam direitinho os ambientes reais são chamados de cenários realistas, e às vezes eles eram pintados em grandes telões que caiam do urdimento do teatro. Hoje em dia as pessoas de teatro acreditam mais na imaginação do espectador, e os cenários muitas vezes são feitos apenas por alguns elementos que são postos na cena somente para sugerir o ambiente onde a peça é vivida. Por exemplo: se você quer mostrar que a peça se passa numa praça, você pode botar na cena apenas uma árvore e um banco, deixando que o espectador imagine o resto.
Isso torna a produção do espetáculo muito mais barata, dando também ao criador do cenário oportunidade para desenvolver sua imaginação. Os japoneses são mestres nessa maneira de criar um cenário. Se tinham que criar um rio, bastava um cartaz trazido à cena com a palavra "rio" escrita para sugerir o ambiente da cena a ser representada. A função do cenógrafo (o criador do cenário) não é copiar a natureza, mas mostrar no palco uma maneira própria de ver a natureza e a vida. É um ótimo exercício para a imaginação inventar cenários. Com folhas de jornal coladas em algodãozinho, caixotes, caixas de papelão, alguns pregos e tinta, o futuro cenógrafo pode criar, com um pouco de imaginação e trabalho, qualquer cenário.
OS FIGURINOS
Uma das dificuldades maiores que encontra aquele que quer vestir uma peça de teatro é o desconhecimento dos trajes da época. Por exemplo, se vamos fazer uma comédia de Martins Pena, que viveu no fim do século XIX, os personagens devem ter roupas da época. Para descobrimos o feitio dessas roupas temos que aprender a pesquisar. Existem muitos livros sobre figurinos de épocas e a maneira de fazê-los. Portanto, o novo figurinista terá de aprender a procurar nos livros a maneira como se vestiam os seus personagens. Só depois de conhecer os hábitos, o gosto e a maneira de se vestir de cada época é que o figurinista poderá partir para uma criação própria. Aí então ele pode inventar, transformar, misturar, criticar, como quiser. É neste momento que as pessoas que querem fazer teatro devem estudar um pouco da história do teatro e da história da civilização para terem uma base de onde partirão para sua própria invenção.
O material usado para a confecção dos trajes de teatro pode ser o mis simples possível. Algodãozinho , sacos de aniagem tingidos de todas as cores, cortinas velhas, tudo pode servir para a cena. E mais um vez é a imaginação do figurinista que vai dar vida a todo esse material.
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