Por: Vilebaldo Rocha em 06/2014 - Visitas: 2967
A Cidade do Medo
Faremos casas de medo,
Duros tijolos de medo.
(Carlos Drummond de Andrade)
O medo, o pânico e o pavor instalaram-se em nossos olhos. Picos, quem diria, outrora tão pacata, transformou-se na cidade do medo. Tornou-se uma extensão do inferno ou o próprio inferno. Virou covil de ladrões, pedintes profissionais, assaltantes, gangs de desocupados, baderneiros, maconheiros, políticos, assassinos e o diabo a quatro.
Faremos casas de medo,
Duros tijolos de medo.
Está pintado o quadro do caos. O medo nos olhos de todos.
A cidade abandonada; os urubus passeando nas calçadas; obras inacabadas e esquecidas, outras se arrastando a passos de tartaruga com muleta. Gente jogando lixo na rua; gente jogando imagem de Cristo no lixo. O trânsito congestionado com centenas de motoristas mal acostumados e mal educados, buzinando por qualquer besteira e xingando a mãe de todos. O ladrão com medo da polícia, a polícia com medo do ladrão e o povo com medo de ambos. Moto-taxi na contramão; moto-taxi atropelando gente e matando e morrendo. Assaltos, roubos, mortes e mortes e mortes. E o medo nos olhos de todos.
Faremos casas de medo,
Duros tijolos de medo.
Todo esse caos deve-se ao fato de que a mais de uma década não existe administração na cidade. Isso aqui virou terra de ninguém. Cidade Modelo de como não deve ser. Pois é, continuemos a votar nas mesmas pessoas. Os urubus reversar-se-ão no poder como o dia com a noite.
Faremos casas de medo,
Duros tijolos de medo.
E assim vamos vivendo; levantando as paredes do muro; pondo mais cadeados no portão; abdicando a um passeio noturno; desconfiando dos próprios amigos e rezando pela morte do inimigo. E assim vamos "vivendo" e construindo a nossa própria prisão; prisão lapidada no medo. Fazendo casas de medo, com duros tijolos de medo. O medo triste dos leiteiros, que deixam suas casas para enfrentar a solidão e o medo dos consumidores de leite bom que vem do interior. Leite branco de medo, que treme ao alvorecer pois sabe que as páginas dos jornais o tingirão de vermelho. E ficarão vermelhos de medo.
Que o dia nos seja leve e a noite também.
Faremos casas de medo,
Duros tijolos de medo.