Por: Vilebaldo Rocha em 05/2014 - Visitas: 2134
Pregando no Deserto
João Batista quando foi anunciar a vinda do Cristo, teve que pregar no deserto para cobras e lagartos. De tanto praguejar contra os desmandos das autoridades constituídas, teve sua cabeça decepada por desacato a Herodíades. Entretanto a expressão trágica do seu rosto sobre a bandeja nos braços de Salomé anunciou ao mundo a vinda do Salvador.
Fazer cultura em Picos é também pregar no deserto. A grande maioria da população permanece alheia, na realidade desconhece totalmente o que seja arte. De sorte que existe uma minoria (qualificada, obstinada e, acima de tudo, teimosa, porque fazer arte em Picos é ser teimoso) que não se deixa abater pelo marasmo cultural que reina em nossa terra.
Existe ainda um agravante: se não bastasse o descaso por parte daqueles que detêm o poder econômico e administrativo, como também a omissão do povo, ainda existem os "artistas" que desconhecem o significado desta palavra. Por isto eu peço que desconfiem de todo aquele que se auto-intitula de artista; todo aquele que se diz poeta, que se diz cantor, que se diz compositor, que se diz escritor, que se diz pintor, que se diz ator, todo aquele que se diz superstar. Artistas há; mas ao povo é que lhe cabe a tarefa de repudiá-los ou glorificá-los no pedestal da fama.
Ser artista é coisa a que muitos aspiram, mas artista não se fabrica, lapida-se. Para ser artista é preciso dom, e isto ainda não é suficiente; é necessário consciência artística. Porque ser artista é uma filosofia de vida. É um modo de pensar e de agir. É saber que se está dando o melhor de si, e que este "melhor de si" é apenas uma partícula mínima no universo literário. Antes de se fazer algo é necessário aprender; quando se aprende é necessário aperfeiçoar, e este aperfeiçoamento é quotidiano, é infinito, quanto mais se aprende, o por ser aprendido é cada vez maior.
Sócrates disse: "Só sei que nada sei". Será que ele era burro ou idiota?! Não, é óbvio, simplesmente ele tinha consciência de que seu vasto conhecimento era um nada diante do que ainda havia por aprender, isto é, diante do universo de coisas.
Continuaremos pregando no deserto como nesta mesma terra outros já o fizeram. Se o pouco que nós oferecemos um dia servir de ponte para uma cultura mais elevada em nossa cidade, então o suor derramado não terá sido em vão.