Por: Nonato Fontes em 05/2014 - Visitas: 10537
Na região amazônica em época de festas juninas as populações ribeirinhas costumam festejar com quadrilhas, comidas típicas e muita dança durante toda a noite, tudo puxado a queima de fogos de artifícios. Conta a lenda do Boto Cor de Rosa que nesta data, em especial a noite quando ele aparece, mira sua pretendente, joga seus galanteios e a seduz, levando em direção ao rio engravidando-a.
Segundo a lenda, ao sair do rio, ele se transforma em um rapaz elegante e sedutor vestido de branco e com um chapéu na cabeça, artifício usado para esconder a grande narina, já que a transformação não é completa e ficando exposta seria percebida de longe. Na região amazônica quando uma mulher engravida e não é casada, é comum ouvir-se dizer que foi o Boto.
Causos:
Dona Salomé era uma mulher muito bonita, morava a beira do rio Amazonas, sua família se resumia apenas a ela e uma filha, tinha ficado viúva ainda nova, antes mesmo de engravidar. Contava sempre que sua filha teria sido gerada de um homem misterioso, que andava vestido de branco, conheceu numa festa de São João, namoraram durante um mês. O tal fulano, como ela se referia a ele, costumava aparecer apenas à noite, dia sim dia não, mas tinha um jeito que seduzia qualquer uma, um lindo rapaz, suspirava ao lembrar.
Embora estivesse de namoro recente, Dona Salomé resolveu se entregar a esse rapaz numa noite de festa. Contava com detalhes sua saída, sua entrada em uma mata bem próxima do rio, seus suspiros aos toques maliciosos do companheiro, sua alucinação em meio a carícias quentes, envolventes. Não consegue lembrar até o fim, uma pena, só lembra que acordara totalmente nua, suas roupas ali do lado, mas não encontrou seu parceiro, aliás, desde esse dia nunca mais o viu.
No intervalo de oito semanas, dona Salomé descobriu que estava grávida. Não custou para que o boato na cidade corresse, Foi o Boto! Foi o Boto! Dona Salomé pouco ligava, apenas necessitava cuidar de sua gravidez para que nada acontecesse com a filha que tanto esperava.
Nasceu a filha da Dona Salomé, garota bonita, lindos olhos. Ali mesmo foi crescendo em meio a tantos comentários, A filha do boto! Já mocinha se via o quanto de bonita e sedutora a garota tinha, parecia ter sido feito a mão. Tinha uma cabeleira de causar inveja a qualquer mulher, seios lindos, quadris torneados, pernas arredondadas. Quando passava pela rua o comentário já mudava, Tanto faz de frente como de costas, a menina é um violão, suspiravam os rapazes.
Assim ia crescendo a mocinha, sempre sorridente, simpatia não se via igual. Costumava participar de todas as festas na cidade, mulher dançadeira, mal parava para descansar, os rapazes aproveitavam a oportunidade para se aproximar um pouco mais, porém, ficavam apenas na dança, alguns até tentavam algo mais sem obter êxito. Sua mãe a alertara para as armadilhas de homens sedutores, falava com propriedade sobre os perigos.
Conta o pessoal do lugar que numa noite de São Pedro, havia programada uma festa ali a beira do rio, a filha da Dona Salomé estava lá quando chegou um jovem vestido de branco e de chapéu, chamou-a para dançar, muitas músicas se passaram, a noite rolava bonita, com uma lua clara, muitos rojões e vivas ao Santo. Dona Salomé apareceu à procura da filha, quando pergunta a uma amiga essa dá de falta da garota, nem tinha percebido o desaparecimento dela da festa, aliás, ninguém ali percebeu, só contaram para sua mãe que a viram dançando com um rapaz vestido de branco e de chapéu, uns mais engraçadinhos gritaram de longe. O Boto!
Dona Salomé saiu em direção ao rio, buscava pela margem de cima, voltava a de baixo e nada, embrenhou-se na mata que tinha próximo e como contam as pessoas do lugar, nunca mais a viram, nem a filha. Sumiram para sempre, não se sabe como, pois para fazer a travessia do rio tinha que pegar um barco dos que ali existiam, mas nenhum barqueiro tinha visto qualquer que seja delas. Há um comentário no povoado que a família do Boto mora no rio, Dona Salomé a filha e o Boto.
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