Por: Nonato Fontes em 10/2015 - Visitas: 7893
Jerônimo nasceu nas proximidades de Serrinha e sabia muito bem as veredas que davam acesso à cidade, sem necessitar andar muito. Caminho esse descoberto por obrigação, pois sabia da distância que teria de percorrer em lombo de animal até chegar ao povoado, não houvesse o atalho.
Costumava passar muito tempo distante, visto que havia necessidade de visitar a família - mulher e filhos - que ficaram distante pela razão dos estudos da garotada, cinco no total. Trabalhava de ajudante numa torrefação do Sr. Militão, homem de plantação boa e que empregava muitos dos moradores de Serrinha e adjacentes.
O seu Jerônimo era considerado um dos mais sóbrios contadores de causos, que intrigava qualquer cristão que ouvia. Só não o cortavam no meio da conversa, porque era cidadão sério, e ninguém dali era capaz de fazer alguma desfeita com gente de tão boa índole.
Certa feita, Jerônimo foi fazer a habitual visita a família, demorou quase uma semana, voltando numa sexta feira. Segundo contava o senhor, ao retornar para a sua casa, encontrou-a toda revirada, porém seus pertences mais valiosos estavam intactos, apenas suas armas, uma espingarda bate bucha e uma de cartucho havia sumido.
Antes de denunciar as autoridades de Serrinha, como guardava seu faro de caçador profissional, resolveu andar pelo caminho em volta da casa onde residia para tentar encontrar algum rastro deixado pelo invasor. Segundo conta, apenas havia marcas de pés de uma pessoa pequena, como se fosse um menino, no entanto, só mirava em direção a casa, era de imaginar que ainda estivesse por ali.
Para o Sr. Jerônimo, era tempo perdido olhar se estava escondido por perto, ou acreditar que ali tinha entrado um garoto para carregar apenas suas armas. Era coisa do Caipora (Veja Lenda do Caipora), seus rastros são assim, com os pés virados para trás, vem de costas e sai de frente para que ninguém saiba que direção tomou naquele momento. Jerônimo já havia contado alguma coisa sobre ele, muito embora, ninguém de nós tivesse acreditado que existia a tal figura, ficamos calados para não contrariar o cidadão.
Desta vez foi mais longe, falou que numa certa caçada, já de volta para sua casa, notou que alguma coisa o seguia, hora pela estrada, hora por cima das árvores. Não se assustou, pois sabia que nada estava fazendo de errado, sabia que era o Caipora, mas que esse só ataca aquele que abusa nas matanças de animais ou corte de árvores para venda, e ele só caçava para seu sustento. Continuou suas passadas firmes e assim chegou à sua casa. mesmo dentro dela ainda viu quando o bicho embrenhou-se nas matas numa velocidade que ninguém imagina, contou o homem.
Para Jerônimo, como o Caipora o havia seguido naquele dia, resolveu por fim as caçadas dele carregando as armas, mesmo sabendo que era só para o sustento, ele não gosta que matem os animais da floresta, por isso, levou minhas armas, finalizou Jerônimo.
Até quando estava com a gente, Jerônimo contava e recontava a história sem nenhuma vírgula ou ponto trocado, era uma batida só, coisa de pensar que era verdade mesmo, mesmo sabendo que era folclore. Demorou muito para crer que não passava de história de caçador. Porém, quem quiser acreditar que acredite, só sei dizer que a casa onde Jerônimo morou hoje é habitada por uma turma de descendentes de índios e, segundo alguns moradores da cidade, já viram um curumim sair montado em um porco do mato e sair em disparada empunhando uma lança. Jamais pude provar tal fato, mas a cada dia que passa, aparece mais um para confirmar o caso, até cresceu a venda de fumo e cachimbo, pois esses objetos são os preferidos pelo Caipora, assim os caçadores compram para levar para as matas em dias de caçada.
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