Por: Nonato Fontes em 09/2014 - Visitas: 3273
Minha história não precisa ser repetida, pois basta indagar por aí que alguém sabe dizer alguma coisa sobre mim, passei a ficar conhecido depois da presepada que uma pessoa fez comigo, bastou apenas eu contar da minha primeira namorada que ele logo escreveu, quase igual, e botou numa página por aí. Agora por onde ando ficam me perguntando que gosto barro de parede tem.
Mas vamos pra frente que do passado só se aproveita o que é bom
Eu já era rapaz, não me recordo com certeza da minha idade, mas iam por uns 25 anos, nunca tinha usado cueca, melhor dizendo, nem o nome desse bicho eu sabia direito. Ora essa! Gente do interior quando vinha conhecer isso, era só por ver os outros falarem, lá mesmo só ceroula, vocês devem conhecer... Pois bem, certo dia eu estava com uns dois amigos num açude, quando um deles falou:
- Zeca, que diacho é isso, tú dessa idade andando assim, desprevenido. Homem compra um suporte para usar por baixo dessas calças!
Eu ouvi aquilo e fiquei encabulado, que diabos seria suporte? Então aproveitei para me informar direito como era que eu fazia os procedimentos para conseguir comprar esse bicho chamado suporte... Meu amigo me falou que bastava chegar na loja e perguntar se tinha o danado para vender. Ora essa! Pra mim aquilo ficou numa facilidade que me mandei na mesma semana. Fui até a cidade para comprar o tal suporte. Cheguei com este meu jeito acanhado, fui andando por a frente de algumas lojas até que enxerguei uma espécie de jacá diferente, maior e feito de outro material, isto cheio de roupas misturadas, dentre as tantas podia ser que existisse o tal suporte. Então fui entrando, meio desconfiado, circulei o objeto que servia para acomodar aquilo tudo, fui procurando o que eu queria, porém sem enxergar o dito. Depois de alguns segundos, uma eternidade para mim que estava ali em busca de um objeto que eu desconhecia, e muito pior, achava até uma falta de respeito andar perguntando se tinha esse tal suporte para guardar as coisas debaixo das calças.
Depois destes segundos senti uma voz feminina por trás de mim, virei-me em sua direção e enxerguei um tipão de mulher bem ali, bem próximo a mim, quase me sentei de tanto tremer as pernas. Ela com toda a educação perguntou:
- Que desejas?
Para mim foi a pior pergunta que ela podia me fazer naquele delicado momento. Naquela hora minha voz quase faltou, procurei dizer algo, porém só gaguejei. Me parece que ela percebeu, ou melhor, tenho certeza que ela percebeu, pois deu um sorriso meio desconcertado e tentou me ajudar.
- O senhor deseja alguma camisa... Calça... Chapéu?
Eu fiquei assim fazendo força, até que saiu... um suporte. A moça olhou bem nos meus olhos e falou admirada:
- Suporte? Pra quê?
Confesso que naquela hora eu fiquei sem saber o que falar. Ora essa! Meu amigo falou que era só perguntar se tinha pra vender, agora essa moça quer que eu diga para que é que eu quero este suporte? Só me faltava essa! Para guardar as coisas debaixo do calção hora! Porém eu só pensei, não disse nada para ela, apenas falei que depois passava lá e dizia para que era, fui embora e não mais voltei.
De volta a minha casa, resolvi passar na casa deste amigo que me recomendara tal coisa, falei do que aconteceu quando perguntei se tinha suporte, ele só fez sorrir.
- Zeca tu é doido?! Suporte é aquele que vem nos calções, mas o que eu te mandei comprar foi uma cueca, falei suporte só por falar, pensei que você sabia disso.
- Ora essa, se tivesse me dito logo o nome certo eu já teria comprado. Mas me diz uma coisa, é cueca mesmo o nome desse bicho?
- Sim, cueca, apenas isso.
Que nome esquisito! Mas resolvi voltar à cidade para resolver de uma vez por todas esta minha situação, não queria mais ver ninguém me dizer que minhas coisas estavam aparecendo por baixo das calças, estava decidido, compro seja lá que nome for, agora, nem que a vaca tussa! Volto com a cueca.
Resolvi voltar em outra loja na cidade, nem encostei perto daquela que tinha andado antes, nem queria mais ser atendido por mulher, principalmente para resolver esse tipo de coisa, negócio de proteger documento é conversa de homem. Entrei em uma loja na ponta do mercado, um senhor já de idade, me parecia ser o dono, veio me atender. Nunca tinha visto tal figura, porém parece que ele já me conhecia a mais de dez anos, era uma educação de gente fina.
- Que desejas meu grande amigo?
- O senhor tem cueca?
- Tenho! E das boas. Gostaria de dá uma olhadinha?
Foi pegando mais ou menos umas vinte duma vez, fiquei aperreado com aquilo, era só uma que eu queria.
- Tenho de vários modelos e marcas.
- Não precisa o senhor mexer muito, é só uma mesmo, qualquer uma.
Ele me olhou assim de cima abaixo, virou-se de costa sem dizer mais nada, pensei que ele estivesse zangado comigo, mas de repente voltou-se para mim já com um objeto, parecido com uma latinha, e foi me dizendo.
- Para o senhor, melhor que uma, é doze no preço de uma, não acha?
- Sim, acho.
- Tenho aqui nosso último lançamento, chegou bem recente, são doze cuecas neste potinho, e melhor, a custo de uma só.
Ele abriu a latinha e puxou uma, estiquei daqui, estiquei dali e perguntei quanto custava. Ele me respondeu que apenas três Cruzeiros, resolvi levar para casa aquele potinho cheio de cuecas.
Esperei chegar o domingo para ir o banho no açude, naquele mesmo que denunciaram meus documentos fora, queria ver se ainda me faziam uma vergonha destas. Chegou o dia estávamos todos lá. Cada pulo de cima das árvores para baixo, eu procurava fazer o possível para a cueca aparecer, pulava quase sempre de pernas para riba. Porém, deu-se que uma hora eu senti um fiapo descendo pelo lado do calção, pensei apenas que era o próprio que tinha soltado uma linha. Comecei a puxar... Puxar... E quanto mais eu puxava aquele negócio ia se enrolando em minha mão, eu já estava com um bolo de linha enrolada entre meus dedos. Comecei a me afastar daquela gente, pois senti que um lado de minhas coisas estava se soltando, descendo, enquanto a outra continuava enganchada. Só aí foi que percebi que era a danada da cueca se destiorando.
Nem podia acreditar que aquilo tava acontecendo, foi uma decepção e um suplício no caminho de volta para casa, eu sacudia a perna para os lados para ver se os negócios se ajustavam de novo, porém era tudo em vão. Nem metendo as mãos por baixo para ajeitar num dava certo, já tinha se desmanchado mais da metade da cueca e não segurava mais o lado direito das coisas. Cada passada era um coice para ver se ajeitava, parecia um maluco solto por aqueles arrabaldes, foi o caminho mais longo que já tinha feito do açude para casa. Era a sensação de estar carregando um cambito com duas latas d'águas, mas apenas uma cheia, só pesava para um lado. Foi um alívio quando cheguei em casa, tirei a maldita cueca e vi que só faltou eu continuar puxando para ela se transformar em um bolo de linha sem serventia.
Depois disto, resolvi jogar tudo quando era de cueca daquele copo fora, aliás, queimei tudo, pois podia alguém achar e querer usar, e eu não desejava um mal tão grande para outra pessoa. Somente o copinho foi que me interessou, ainda hoje eu guardo moedas nele, por fim, ainda tive um pouco de lucro com a compra, hoje tenho um cofre dos mais bonitos que já vi.
E vamos pra frente que do passado só se aproveita o que é bom.
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