Por: Carlos Eugênio em 05/2014 - Visitas: 4697
Vilebaldo Nogueira Rocha nasceu em Picos-PI, no dia 26 de dezembro de 1964, às margens do Rio Guaribas, próximo hoje onde é o terminal rodoviário. Terceiro filho do casal Adalberto de Araújo Rocha e Maria da Conceição Nogueira Rocha. Casado com Rozângela de Sousa Leal Rocha. Formou-se na FAFOPA - Faculdade de Formação de Professores de Araripina-PE, em Licenciatura Plena em LETRAS. Em março de 2000 publicou o livro de poemas intitulado "Cacos de Vidro". Em 2005 viabilizou a publicação da Antologia Upeana I, com a participação de quinze membros da entidade. Em 2006 publicou seu segundo livro de poemas: O Caçador de Passarinhos (Poesia: O Caçador de Passarinho recitado por Nonato Fontes). É membro fundador da União Picoense de Escritores, sendo seu primeiro presidente. É membro do grupo de teatro Projeto Bar Cultural, onde participou das seguintes encenações: O Casório da Pafunsa, de Fontes Ibiapina; Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto; O santo Inquérito, de Dias Gomes; A Paixão de Cristo; Vida e Morte de João Batista; A Sagrada Família; A Gota D'Água; Oásis; Zé Carrapeta Guia de Cego de Assis Brasil, PBC em parceria com o grupo Zoom de Teatro, entre outras.
Prêmios Literários:
1990 - Primeiro lugar no concurso de poesia - Centenário de Picos, com a poesia Rio Guaribas - promovido pela ALERP - Academia de Letras da Região de Picos.
1994 - Primeiro lugar no concurso de poesia III - Semana Universitária - com a poesia Homens de Cimento e Cal - promovido pela UFPI - Campus de Picos.
1995 - Segundo lugar no concurso de poesia Lucídio de Freitas com o poema Poesia de Neon - promovido pela APL - Academia Piauiense de Letras.
1997 - Primeiro lugar no concurso de poesia V - Semana Universitária - com a poesia Cristos Crucificados. Promovido pela UFPI - Campus de Picos.
CRÍTICA
"VILA VELA VITRAIS NA VIDA" (prefácio do livro Cacos de Vidro)
POR CARLOS EUGÊNIO RÊGO
A retina de Vila é um âmbar. Um âmbar poético, uma resina literária que vitrifica imagens.
Vila vela vitrais na vida em telas aparentemente mortas, em lendas literariamente vivas, em uma poética pulsante, inquieta. Tantas palavras terminadas em "mente", quase sempre advérbio de modo, no prefácio, poderiam apresentar um poeta que prima pela forma em detrimento do conteúdo. A questão é que o conteúdo desses imensos cacos, desses cacos macrocósmicos está na poesia imagética.
Vila vela o conteúdo da poética entranhada nas ruas de uma cidade impregnada de tudo.
O Rio Guaribas é a retina líquida do poeta. É a desregionalização de um fio. É a universalização da água de uma poética aparentemente regional.
A vertente social de um poeta nesse nível não poderia ser panfletária nem aleatória. "Cortaram os cabelos das acácias", é, metaforicamente uma fuga ao lugar comum da poesia social em linguagem ingenuamente direta. Traz uma acentuada semântica que nos remete à leitura mitológica de Sansão, representando a força natural.
A caracterização dos tipos que lotam a cidade, que lotam os bares, bordéis, refletem aspectos de uma poesia urbana quase etílica, mas de traços bem vivos. É a "vida submersa no copo", "sentada à mesa", "queimando entre os dedos", "cambaleando entre os versos da poesia do bar".
O bar poético de Vila desenha o mito de um Dionísio suburbano. A bebida é o "bálsamo que lava a ferida", os corredores do "Bar" são um "rio venéreo" que se derrama pela cidade.
É através de imagens, da arquitetura poética que vila constrói a semântica do seu verso, o seu conteúdo poético. É o curso do tempo e da poesia em "vento, verso, vela, mar, amor".
"Dias meses anos sol lua clara solidão.
Dias anos
Meses séculos
Anos solidão
Sol só
Lua nua
Clara solidão".
A temática "impregnada de poesia" revela um vila que vela uma forma plural de se fazer poesia. É um jogo multtemático, é um social intimamente pessoal. A introspecção que busca afinidade com o outro (leitor) que torna-se cúmplice quase depressivo; é uma forma leve de autocomiseração, o que só acontece no plano literário. Tendência que pode ser lida em um nível estrutural, de oposição binária entre o homem e o poeta, seguindo-se a escola de Roman Jakcobson.
Há uma outra análise possível, se observarmos Emil Steigner que procura ver o trabalho poético numa disposição anímica. Onde o poeta se solidariza com o homem.
Outras análises são possíveis na obra deste poeta que guarda nos "olhos de passarinho acanhado" uma poesia imensa.
Afinal "Vila vela vitrais na vida".
RIOS DI-VERSOS EM UMA POÉTICA ATEMPORAL (O Caçador de Passarinhos)
POR CARLOS EUGÊNIO RÊGO
Eternizam-se, na literatura de Vila, as imagens de um tempo, de uma cidade. É uma poesia crivada na pedra, nos rincões onde ninguém mais habita, nas encostas de morros, nos picos, e, em páginas maiores, no regaço, no leito e no íntimo do Rio Guaribas.
Moram no Rio as memórias quase arrastadas pelo descaso, arrasadas pelas desordenadas povoações, pelo lixo depositado em um cofre sagrado que, à ótica dos incrédulos, não seria jamais aberto. Engano! Eis "O grande morto insepulto. Que incha e geme e dança no caixão..."
Mas as memórias do Guaribas não esbarram na denúncia social (vertente explosiva neste poeta), elas têm um encanto de sentimento além, é quase uma relação sexual, a areia da memória parece forrar num tempo eterno a cama onde dorme o Rio, de onde pode despertar.
A cada piscar do poeta, a areia banhada de lembranças parece ser a alcova imaginária de um narrador apaixonado pela vida.
O Guaribas de Vila é um Rio sem tempo, é o mar da infância, é um fio em outras eras, é o vale de lixo plantado pela ignorância, é o Lázaro que se levanta, "encharcando barracos, casas, mansões, prédios, Vila e vidas..." é um rio sempre, é um rio... é o Rio!
Além do Rio, há outras paisagens, outras histórias.
A cidade é viva e é um "baú de memórias", se configura como personagem quase central nos trilhos deste "Caçador de Passarinhos". Passarinhos são os versos.
A relação de Vila com a Cidade, a moldura que ele projeta nessa tela, faz dos seus textos uma literatura meio telúrica. Em uma primeira leitura, parece limitar-se a isso, o que se desmistifica em textos mais cosmopolitas como "Poesia de Neon" (texto do 1o livro "Cacos de Vidro"), um perfil de Brasília, "A Poesia de Oscar".
Essa amplitude de teor, essa visão multitemática, faz com que seus versos voem, ou pelo menos que Vila se adapte a novas gaiolas.
A poesia de Vila constrói, além de imagens, uma constante modernidade. Se o conteúdo é cíclico, volta sempre a permear. A forma se inova sempre, quer na disposição gráfica, no concreto de "FOME", quer no visual de "Morto", onde desenha as curvas do eterno Rio, mas inova, sobretudo na forma de dizer, de maneira nova, que parecem velhas. Afinal literatura não é, essencialmente, o que se diz, mas como se diz.
Eis aí uma inovação.
Eis aqui os "passarinhos". Não tentem capturá-los, mas captá-los. Eis aqui uma viagem em versos!
Eis aí... eis aqui o poeta, O poeta e seus vitrais!
Eis o Vila!!!
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