Por: Antônio Valdemar de Carvalho em 06/2014 - Visitas: 1980
Bocaina, 26 de novembro de 2011 Saudações sem fim!
Assim como os pássaros abrem suas asas para voar, abra o seu coração para ouvir a leitura dessas mal- traçadas linhas que é uma página de sua história de amor.
Alguém deve estar na assembleia perguntando-se ou afirmando: que início mais cafona! Que linguagem é essa? Em que período estamos? Tudo isso pertence a um outro contexto que ficou esquecido no passado.
Realmente, tens razão, essa linguagem não é mais tão usual; algumas expressões contidas são de cartas familiares e até de mensagens radiofônicas, hoje não mais utilizadas. Não dispomos de tempo , nem temos paciência para meios de comunicação lentos e atrasados. Estamos em outra época, somos modernos e essa tal modernidade deixa-nos cada vez mais apressados,correndo, somos escravos do relógio, do celular e dos compromissos. Mesmo assim, somos felizes.
A saudação e o parágrafo inicial foram, dessa forma, elaborados para atender a um recurso estilístico da retórica discursiva com uma intencionalidade: levá-los ao escapismo, à fuga temporal e espacial, fugacidade esta própria dos saudosistas, pois o cronômetro e o velocímetro não param e neste século XXI parece que seus ponteiros estão mais acelerados, deixando-nos apressados também. Não nos permitindo nenhuma pausa, mesmo que esta seja para um curto flash back, por favor, pare, stop, display!Evoluímos até na linguagem.
Entremos na nave do tempo e transportemo-nos para nossa querida e amada Bocaina de outrora. Nossa cidade que geograficamente, está situada no Vale do Rio Guaribas, localizada à sua margem direita. Apresenta em seu relevo planícies , várzeas, baixas, morros e elevações. É, sem dúvida, o cenário de muitas histórias e brincadeiras, das quais fomos personagens contracenando com outras que já não atuam mais. Histórias de uma época e vida bucólica, tranquila com dias longos e horas lentas, onde tínhamos o privilégio de contemplar a mãe natureza e a paisagem campesina do nascer ao pôr-do-sol observando as mudanças das estações climáticas percebendo o enverdecer e florescer de nossas matas nativas; perfumando-se com o cheiro das flores do campo; sentido o friozinho da madrugada nos meses de maio e junho, ouvindo o gorjeio dos pássaros, ao romper da aurora e o cheiro quente do café feito no fogão a lenha. E quando chega a noite, no crepúsculo do firmamento, nesse panorama tão nosso, assistir o despontar da lua no nosso sertão e o reluzir das estrelas, um verdadeiro show no céu comandado pelo Criador, onde a tela não era a da TV, mas sim o horizonte bocainense, da mesma forma que, o sofá ou poltrona, também não eram da sala de estar, era a calçada da casa onde fomos criados e a platéia, a família bocainense. Um dia foi assim e éramos imensamente felizes, pois a felicidade não é uma invenção pós-moderna, ela sempre existiu, talvez naquele tempo fosse bem mais sólida.
Nesta viagem pela lendária terra de Borges Marinho, não podemos deixar de mencionar, ou seja, fazer uma conexão pelo Rio Guaribas devido sua fundamental importância no processo de povoamento da região, pois este, além de ser uma fonte de água que abastecia as famílias ribeirinhas, foi também meio de produção agrícola em períodos de estiagem, sobretudo no tocante da produção de alho em seu leito, que muito contribuiu para o desenvolvimento econômico de nossa terra. Ao mesmo tempo que suas águas límpidas e transparente deram vida e crescimento à nossa economia, esse mesmo líquido imprescindível e ambiente aquoso serviu-nos de espaço de lazer e diversão, pois os banhos no Rio Guaribas de antigamente não tinham o mesmo objetivo dos banhos no chuveiro de agora, sendo que aqueles mergulhos lavavam não somente o nosso corpo, mas principalmente nossa alma. Hoje o Rio morreu e com ele foi aterrado muito do nosso passado, inclusive nossos sonhos e fantasias de criança. Quanta saudade!
Ao fazermos esse caminho pelo túnel do tempo, revendo o nosso berço primeiro, Bocaina, somos levados à principal referência histórica, religiosa e espiritual - Nossa Mãe Amantíssima - a Imaculada Conceição a quem recorremos em todos os momentos de aflições, de dores, de angustias, de tristezas e de alegrias, para pedir proteção e agradecer, sem dúvida, somos atendidos sempre. Nesta perspectiva de reconstituir o nosso passado e nossa vida, a igreja de Nossa Senhora da Conceição é o cenário mais perfeito desse enredo onde fomos protagonistas ou coadjuvantes de nossa própria história de amor por nossa terra e principalmente por nossa padroeira, pois difícil é ser bocainense e não amar Nossa Senhora da Conceição, sentimento esse cultivado desde pequenos e perpassado pelos nossos pais.
Ao longo do percurso da história muitos bocainenses, assim como os pássaros bateram asas do ninho, migraram, por motivos diversos, um dia que certamente ficou marcado na lembrança de cada um; agora são filhos ausentes, porém não deixaram, nem abandonaram suas origens. Presentes são os cenários, porém modificados, uns melhorados outros mutilados pela ação, mas uma coisa nos alegra e nos consola: festa de Nossa Senhora da Conceição, graça a Deus continua sendo a principal identidade bocainense, pois já conta-se 257 anos fé e devoção.
Fazer um comparativo do presente com o passado é uma atitude humana, pois temos história e seu conhecimento é imprescindível é através desta dicotomia que buscamos sempre melhorar o futuro sendo que um povo que não valoriza sua tradição, sua história é um povo sem alma, sem vida. Neste momento gostaríamos de trazer aos vossos olhos alguns cenários de nossa Bocaina.
Atenciosamente,
Antônio Valdemar de Carvalho,
Lagoa Grande, 25/11/2011.
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